sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Um som para se lembrar (puro)

Para a melhor compreensão deste texto, é necessário ver este video:
Há um ano, no mesmo 30 de outubro, eu realizava pela última vez (por enquanto) uma apresentação em um dos melhores palcos que já toquei. O som saiu ruim, mas acredito que consegui passar minha mensagem para as pessoas que ali estavam (principalmente na hora do grito).
Tinha sido um dia extraordinário. Boa parte do dia passei com a minha então namorada e nem mexi muito com guitarra. Na hora da passagem de som nem subimos ao palco, pois tudo ocorria em cima da hora, os primeiros problemas estavam por vir.
Na hora da apresentação, o microfone estava péssimo, o cara que trabalhava no som era um verdadeiro amador, muita gente cantou sem ao menos ouvir sua voz.
Na minha vez os problemas foram maiores, pois o baterista eu acabei por deixa-lo de escanteio, já que não demonstrou muito interesse. Haviam 3 guitarras sendo que usei meu amplificador e o que estava no palco suportaria só mais um. Resultado: microfonia.
Estavamos demorando demais até que decidi iniciar a música. Como se pode perceber no inicio, o som do microfone é quase nulo e não tivemos um bom retorno deste som. Meu microfone dava choque, particularmente, sem maldade, prefiro encostar os lábios no microfone, já que eu fico meio mole pra tocar e cantar ao mesmo tempo. Na minha cara, uma luz forte que me cegava me forçou a fechar os olhos em certos trechos. Meu desespero era tamanho que eu queria gritar "alguém tire essa maldita luz da minha cara!".
A parte do solo foi uma das mais desastrosas. Havia uma conexão entre o baixo e a guitarra que acabou se perdendo, talvez, porque a gente só ensaiou uma vez e apresentou o som uma vez para que os concorrentes a conhecessem. Uma hora o baixo entrou em tamanho desacordo que olhei pra saber o que ocorria e o cara parou de tocar. Me virei nos 30 pra achar uma conclusão do problema.
Quando voltamos ao refrão, esperava que meu colega também o cantasse enquanto eu fazia um pequeno solo, quando percebi que ele não cantou, voltei pra voz. Não estava escutando minha voz, tinha uma luz na minha cara, meu momento "o solo fodástico" foi por água abaixo. Gritei tão forte quanto meu pulmão aguentou e justamente nessa hora acho que o microfone desentupiu e voltou a funcionar. Junto com o meu delírio, boa parte do público também entrou em extase e o final pra mim foi a melhor parte. Pular, sentir o grito do público ao ouvir seu nome, ah sim, pra mim ouvir todo aquele rebuliço por minha causa era o suficiente para ganhar o dia.
O professor de música da escola me criticou, no dia seguinte, um monte de gente que eu nem conhecia me elogiava quanto ao som do dia anterior e dois garotos pediram pra eu autografar suas guitarras. Se eu tivesse encontrado eles depois realmente teria autografado.
Bom, foram menos de 10 minutos no palco, mas o suficiente para mudar toda a história da batalha das bandas no colégio. Fiquei sabendo que este ano, a apresentação foi fechada apenas para os estudantes do colégio e só seria permitido música gospel. Pode ter sido egoísta da minha parte ter feito tudo aquilo, mas se eu consegui abrir uma brecha em meio ao uma escola conservadora, tenho certeza de que quem me ouviu aquele dia também conseguirá fazê-lo. Sempre há uma música religiosa mais extravagante, forte e agressiva. O pogo (aquela roda durante um show de punk ou hardcore em que a platéia se empurra, da socos e chutes) mais violento que já presenciei foi em um show de metal religioso.
Aos que ficaram na escola e que me lêem, jamais se esqueçam que sempre há uma brecha em uma regra mal elaborada. Libertem-se e expressem-se, pois afirmo com certeza que é muito difícil tocar em um palco tão grande e delicioso como aquele. Quem presenciou as minhas performances excêntricas naquele palco, sabe que sempre haverá um jeito de se expressar mesmo sob a censura.
Um abraço a todos os amigos que ficaram por lá. Boa sorte para todos vocês!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O que querem de mim?! (puro)

Final do mês passado tive o prazer de ir de livre e espontânea pressão a junta de serviço militar para saber se teria que ridiculamente prestar um ano de serviço gratuito num lugar que funciona a base de gritos, pessoas sem humor e folgadas.
Sim, digo folgadas porque depois de ter que ir lá de graça as 5 da manhã e passar um monte de privações, ao ver você, um ser desconhecido que corre o risco de parar ali também, ele vai tirar onda da sua cara, folgar com você e você ainda é obrigado a aguenta-lo sob o risco de ser preso por desacato a autoridade.
Isso é totalmente ridículo. Ser preso por um soldadinho de chumbo que não tem sequer uma patente mas acha que tem poder suficiente pra te fazer de otário.
Bom, pelo menos o que me conforta foi eu ser dispensado logo na pré seleção. Encontrei dois colegas por lá ambos com a placa amarela no pescoço que indica que você fora convocado.
O que me intrigou lá foi uma coisa bem simples: Nenhum soldado reclama. Quase todos os soldados que eu vi a princípio não queriam estar lá. Depois de um tempo passaram a adorar o local, os colegas e a carteirinha do exercito que lhe permite entrar gratuitamente em locais pagos. Não sei porque, acho que se acostumam, se acomodam com novas amizades, nova rotina. Me senti num lugar cheio de robôs.
É o que ando vendo por todos os cantos: estamos sendo alienados. Passam uma mensagem do exercito como sendo uma coisa boa, super bacana quando no máximo o que você vai fazer de interessante por lá é rapel. Oras, junte uma galera, umas cordas, alguém que manje do assunto e vá para uma pedreira fazê-lo. Não me convém em nenhum momento levantar 4, 5 horas da manhã, se arrastar na lama, comer larvas e fazer todo um treinamento de sobrevivência para no máximo, no máááximo parar lá em Honduras ajudar um país que nem meu idioma fala. E você nem aproveitaria a viagem porque iam te colocar para garantir a segurança, resumindo, nem a cultura local você irá conhecer.
No meu trabalho, tenho um colega que se esforça para fazer 20 horas extras e está feliz porque vai crescer na empresa. Eu não sei onde está a essência disso. Perder horas e horas de sua vida num lugar onde te pagam um quinto do que você os faz ganhar com o seu esforço e que se você crescer, ainda sim nunca te pagarão o que realmente merece ganhar.
Tentam te ensinar no mundo que trabalho é uma coisa boa e deve-se ficar grato por tê-lo. Oras, se trabalho fosse coisa boa há séculos atrás nunca haveria escravidão. Povos dominavam outros povos para não pegar no batente. Que coisa boa é essa?!
Estamos sendo alienados e oprimidos. Assim como em casa, no trabalho e as vezes até na faculdade eu não tenho voz para opinar, somos obrigados a ser quem não somos. Em casa ninguém pergunta o que eu quero ou se eu quero. Simplesmente mandam. No trabalho é assim, além de não tê-lo escolhido, não tenho direito a opinar. Na faculdade, a cada dia que passa me identifico menos com o curso e sabe o que me fez ter certeza que não quero segui-lo?! As próprias aulas, as ligadas a psicologia e ao que nos faz pensar. E depois de tudo isso ainda me dizem que eu devia estar feliz e conformado com a "maravilhosa" vida muda que eu levo.
Finalmente voltei a escrever. Mais ácido, crítico e rabugento, pois aqui, é o único lugar em que posso dizer ainda que calado, minhas opiniões.