quinta-feira, 7 de março de 2013

Sem título

Me senti até melhor depois do último post.
Da pra morrer mais tranquilo.
Aiai.

Carta ao pai

Caro pai,
Antes de mais nada, resolvi escrever porque parece que foi aberta uma temporada de cartas.
Acho que você não me entende porque não me ouve e... eu não sei porque não me ouve.
Assim como você adora bancar o dono da verdade com suas experiências de vida e sua sabedoria, eu gostaria de lhe dizer que eu também possuo certas experiências de vida e que você nem percebeu em como lidei com elas.
Não sei se se recorda, mas há pouco mais de 10 anos passamos por uma situação complicada em nossas vidas. Um momento muito turbulento em casa nos assombrava. Não sei se vale lembrar, mas veja a situação: você já tinha seus 40, 41 anos, e esse momento assombroso lhe aconteceu e você já tinha 40 anos de experiência. Pois bem, eu tinha 12. Doze. DOZE!
Acredito que não faça a menor ideia de que forma essa situação me destruiu. Meu caro, eu acredito, que ainda com 40 anos essa experiência pode ter sido dura, imagina para mim. Oh, meu caro, coloque-se em meu lugar por alguns instantes.
Até hoje eu desconfio de qualquer contato de algum desconhecido oferecendo amizade. Custei muito a fazer amizades e ainda assim sempre imaginei e ainda imagino que as vezes eles podem conspirar contra mim. Claro que parece insano, mas a partir disso, dessa experiência ruim, sem um acompanhamento seu, talvez, minha vida não foi a maravilha que imagina.
Eu banco o dono da verdade, assim como você, porque acredito estar anos a frente das suas experiências difíceis porque sinto que enfrentei essa experiência sozinho. E que cresci sozinho. Sem dividir nada com você ou com alguém em casa.
Eu não consigo me esquecer de uma ocasião quando eu tinha 12 anos e fazia menos de um ano que a gente morava nessa cidade.
Lembro que sua filha passava todas as noites deitada no sofá maior depois que você e a minha mãe iam dormir e que eu era obrigado a ficar no sofá menor e sem escolher os canais, já que ela ficava no sofá maior, ficava com o controle da tv. Enfim, lembro-me de um dia em que eu quis me deitar no sofá maior e isso me foi negado pela sua filha. Poxa, ela não poderia abrir uma exceção só por uma noite? Seria tão ruim assim para ela?
Então ela fez barulho e eu fiz barulho, você desceu bravo e começou a me chacoalhar como se eu fosse o culpado de todo aquele turbilhão que acontecia. Eu não podia ter direito a um dia, um dia, pra poder deitar no sofá maior sem ser culpado por aquilo que acontecia?
Você me chacoalhou e chacoalhou e gritava na minha cara passavamos por "uma baita de uma crise". Nunca me esqueci disso. Nesse dia percebi que você estava errado. Meu pai estava errado e não bastava isso: ele tirou meu direito de defesa, de tentar me defender. Era tão errado eu ter a porcaria do sofá maior por uma noite?
VOCÊ FOI INJUSTO E EU NUNCA ME ESQUEÇO DISSO!
Doeu.
Doeu e dói.
Eu não posso conversar com você por que além de não ouvir, julga. E julga errado.
VOCÊ ESTÁ ERRADO SOBRE MUITAS COISAS.
Sua experiência não é tudo. Lembre-se que todos os problemas que você enfrentou depois dos 40, eu enfrentei depois dos 12.
A vida é diferente, as questões são diferentes, o contexto é diferente e você parece não se atentar a isso.
VOCÊ É UMA PESSOA QUE SÓ OBSERVE E JULGA O FENÔMENO.
Você, logo você, que julga baseado nas suas experiências, parece não ver que as pessoas agem com a experiência delas. Não basta julgar o ato de uma pessoa. A vivência desta pessoa simplesmente não importa em nada?
Eu sempre fui uma pessoa um tanto peculiar e depois dos 11 anos passei a ter uma tristeza e um desespero incontrolável.
VOCÊ NÃO PODE ACHAR O QUE EU DIGO É BESTEIRA.
Quando eu digo sobre ter vontade de morrer e você acha que é uma besteira, você está errado.
Você não pode dizer que é besteira, que a vida "confortável" que tivemos, com patrimônios, podem, simplesmente desaparecer com qualquer desejo primitivo de raiva, de explodir de raiva, de desejo de matar, de desejo de morrer. Você não percebe o quanto isso é sério.
Eu tenho 21 anos, há 10, eu tenho momentos em que eu desejo morrer, em que eu planejo minha própria morte, e como eu disse, você não pode achar isso besteira. Pelo deus que você acredita, você não pode achar isso besteira, meu caro pai. Isso é sério.
Minha vida está tomando uma forma e as vezes simplesmente não há quero.
As vezes minha vida parece que veio numa forminha e eu to vivendo ela como um bolo que cresce no forno e fica bom para que se possa desfrutar.
Muitas vezes não a quero.
Tenho minhas responsabilidades e não posso jogar as coisas pro ar. Nunca fui menino disso. Embora as vezes gostaria de faze-lo pra me sentir por uns instantes, isento de qualquer responsabilidade porque elas pesam e doem. E elas doem até eu querer morrer.
Bom, acho que é isso, se com base nas suas experiências, você chegou até aqui sem achar que tudo que escrevi foi um punhado de besteiras, que bom. Obrigado.